Apenas 0,8% da produção agrícola no Brasil é orgânica. Ainda
é um número muito baixo, mas que tem aumentado. O crescimento desse tipo de
cultivo tem atingido a marca de 20% ao ano.
“É possível. Existem muitas experiências e temos que
mostrá-las”, ressalta Kátia Karam, representante do Slow Food do Cerrado. “A
principal razão de ser do documentário ‘Brasil Orgânico’ é contar as histórias
dessas pessoas que fazem esse tipo de trabalho. Sabendo da força do
agronegócio, queríamos reforçar o valor desses produtores”, explica Licia
Brancher, diretora do filme ao lado de Kátia Kloch, lançado este ano e exibido
na segunda noite do Slow Filme.
O documentário mostra histórias de sucesso de cultivo
orgânico nos diferentes biomas do Brasil. E o processo de retorno à cultura
orgânica é associada a dois fatores sociais: uma revalorização profissional do
agricultor, que atrai os jovens de volta ao campo e, ao mesmo tempo, fortalece
a agricultura familiar.
“Eu trabalhei 17 com agricultura convencional, até que
percebi que estava perdendo a saúde e dinheiro”, conta Juarez Pereira, um dos
entrevistados do filme.
Outro ponto bastante reiterado ao longo do festival é que
comer orgânico é uma opção por um estilo de vida. “É também uma escolha do
consumidor, de comer as frutas e legumes na época que elas dão no Brasil. Não
faz muito sentido comer uma manga que venha da Ásia, faz?”, alerta Pedro Paulo
Diniz, o único grande produtor de orgânico mostrado.
Diferença que se
sente no sabor
E não faz sentido mesmo. Na manhã deste sábado nós fomos à
chácara Mar e Guerra, conhecer o trabalho desenvolvido pelo seu Geraldo Veiga.
Já chegamos nos encantando: uma mesa repleta de frutas frescas do lugar nos
aguardava. Pude experimentar o famoso cajuzinho do cerrado – uma versão mini da
fruta, de sabor e doçura concentrados -, jambo e tamarindo doce, frutas típicas
da daqui que eu ainda não havia conhecido.
Pude ainda voltar à infância e degustar jatobá, outro fruto
típico do cerrado que era um dos meus prediletos quando pequena, mas que é
muito difícil de encontrar nas cidades, e as primeiras jabuticabas que
começavam a amadurecer em um pé carregado.
Seu Geraldo nos mostrou todo o seu sistema de cultura, das
mudas à compostagem, passando pela lavoura, pela horta e pela criação de
galinhas e porcos. Chamou atenção o sistema desenvolvido para absorver a “água
cinza” da casa (a do chuveiro e das pias): um círculo de bananeiras que é regado constantemente. “Aqui
em casa somos cinco pessoas e recebemos muita gente e sempre foi suficiente, as
bananeiras nunca ficaram encharcadas”, garantiu seu Geraldo.
O resultado de todo esse cuidado pudemos sentir no almoço
oferecido por ele e sua família: saladas frescas e saborosas, arroz com frango,
arroz e feijão, escondidinho de brócolis e os dois destaques, a moqueca de caju
e uma deliciosa quiche verde. Para acompanhar, sucos de caju e tamarindo.
Estava tudo tão gostoso que a blogueira aqui esqueceu de tirar foto!
No fim das contas, só podemos chegar à conclusão de que orgânico
é realmente bem trabalhoso, mas é também muito mais natural. “A gente reproduz
o que a natureza faz”, disse seu Geraldo explicando sobre compostagem. E assim
as coisas funcionam de forma harmônica. O resultado vale muito à pena.
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