terça-feira, 24 de setembro de 2013

Uma mudança possível

Apenas 0,8% da produção agrícola no Brasil é orgânica. Ainda é um número muito baixo, mas que tem aumentado. O crescimento desse tipo de cultivo tem atingido a marca de 20% ao ano.

“É possível. Existem muitas experiências e temos que mostrá-las”, ressalta Kátia Karam, representante do Slow Food do Cerrado. “A principal razão de ser do documentário ‘Brasil Orgânico’ é contar as histórias dessas pessoas que fazem esse tipo de trabalho. Sabendo da força do agronegócio, queríamos reforçar o valor desses produtores”, explica Licia Brancher, diretora do filme ao lado de Kátia Kloch, lançado este ano e exibido na segunda noite do Slow Filme.

O documentário mostra histórias de sucesso de cultivo orgânico nos diferentes biomas do Brasil. E o processo de retorno à cultura orgânica é associada a dois fatores sociais: uma revalorização profissional do agricultor, que atrai os jovens de volta ao campo e, ao mesmo tempo, fortalece a agricultura familiar.

“Eu trabalhei 17 com agricultura convencional, até que percebi que estava perdendo a saúde e dinheiro”, conta Juarez Pereira, um dos entrevistados do filme.

Outro ponto bastante reiterado ao longo do festival é que comer orgânico é uma opção por um estilo de vida. “É também uma escolha do consumidor, de comer as frutas e legumes na época que elas dão no Brasil. Não faz muito sentido comer uma manga que venha da Ásia, faz?”, alerta Pedro Paulo Diniz, o único grande produtor de orgânico mostrado.

Diferença que se sente no sabor
E não faz sentido mesmo. Na manhã deste sábado nós fomos à chácara Mar e Guerra, conhecer o trabalho desenvolvido pelo seu Geraldo Veiga. Já chegamos nos encantando: uma mesa repleta de frutas frescas do lugar nos aguardava. Pude experimentar o famoso cajuzinho do cerrado – uma versão mini da fruta, de sabor e doçura concentrados -, jambo e tamarindo doce, frutas típicas da daqui que eu ainda não havia conhecido. 
 
Pude ainda voltar à infância e degustar jatobá, outro fruto típico do cerrado que era um dos meus prediletos quando pequena, mas que é muito difícil de encontrar nas cidades, e as primeiras jabuticabas que começavam a amadurecer em um pé carregado.
 
Seu Geraldo nos mostrou todo o seu sistema de cultura, das mudas à compostagem, passando pela lavoura, pela horta e pela criação de galinhas e porcos. Chamou atenção o sistema desenvolvido para absorver a “água cinza” da casa (a do chuveiro e das pias): um círculo de  bananeiras que é regado constantemente. “Aqui em casa somos cinco pessoas e recebemos muita gente e sempre foi suficiente, as bananeiras nunca ficaram encharcadas”, garantiu seu Geraldo.
 
O resultado de todo esse cuidado pudemos sentir no almoço oferecido por ele e sua família: saladas frescas e saborosas, arroz com frango, arroz e feijão, escondidinho de brócolis e os dois destaques, a moqueca de caju e uma deliciosa quiche verde. Para acompanhar, sucos de caju e tamarindo. Estava tudo tão gostoso que a blogueira aqui esqueceu de tirar foto!


No fim das contas, só podemos chegar à conclusão de que orgânico é realmente bem trabalhoso, mas é também muito mais natural. “A gente reproduz o que a natureza faz”, disse seu Geraldo explicando sobre compostagem. E assim as coisas funcionam de forma harmônica. O resultado vale muito à pena.
 
 

http://www.viagemgastronomica.org/2013/09/uma-mudanca-possivel_15.html

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